Debate terminou de forma emocionante, com uma canção sobre a censura
O Seminário “1968: Liberdade e Repressão” se encerrou na quarta-feira com a mesa-redonda “Bang Bang”. O debate contou com Jefferson Del Rios, crítico teatral; Marcelo Ridenti, professor da Unicamp; José Eduardo Vendramini, do Departamento de Artes Cênicas da ECA; e com Romário Boreli, escritor e músico.
Marcelo Ridenti destacou que entender o ano de 1968 é entender o significado de uma série de movimentos de uma época, não só daquele ano
Para Ridenti, foi uma época em que uma grande transformação parecia que poderia ocorrer a qualquer momento e ao alcance das mãos. “Bem diferente de hoje”, ressalva. Essa agitação pôde ser observada também no teatro, que se engajava cada vez mais, com o teatro político ganhando cada vez mais força: Teatro de Arena, Feira Paulista de Opinião, Teatro Oficina, etc. Como exemplos de protestos políticos na área da cultura, Ridenti cita Eles Não Usam Black-Tie, Arena Conta Tiradentes, O Rei da Vela, Roda-Viva, Os Fuzis da Senhora Carrar, dentre outros.
Já Eduardo Vendramini destacou a importância do teatro amador na época, que, pelo baixo custo, conseguiam resistir mais à censura (já que esta costumava trazer grandes prejuízos financeiros à muitos grupos, que investiam muito para depois ter a peça proibida). E cita um exemplo de peça, Um Grito Parado no Ar, de Guarnieri, que se vale da metalinguagem ao retratar um grupo mambembe que sofre com a censura.
Jefferson Del Rios, que era jovem na época da Ditadura, dá a visão dos jovens no período: achavam que era uma coisa boba e fraca, mas com o tempo perceberam que os militares não tinham vindo para brincadeira. O auge foi o AI-5, justamente em 1968. Para Del Rios, a Ditadura representou um baque para a juventude da época, que teve seus anseios freados.
“A censura não é o único tipo de repressão”
O último a falar foi Romário Boreli, que foi músico do Teatro de Arena (foi o diretor musical de Arena Conta Zumbi e Arena Conta Tiradentes, por exemplo), além de ter sido diretor musical de Morte e Vida Severina. Além disso, é escritor, tendo publicado a peça O Contestado.
Para Boreli, a censura não é o único tipo de repressão. Para ele, também há o medo, a insegurança, fatores esses muito presentes nos tempos da Ditadura. “A censura é apenas o desfecho do autoritarismo do governo”, comenta.
Boreli, ao final de sua fala, apresentou ao público uma canção que compôs justamente falando sobre a censura: “Naquele tempo as palavras tinham asas / tinham cores e cobriam de repente a cidade com flores / tinham fogo e acendiam nos lares e ternura de todos / davam vivam / iam cantando, murmurando”. E continua: “Mas de repente as palavras sem fronteiras acordaram, entre muros, assustadas, prisioneiras...”.
Sem dúvida, uma bela metáfora para aqueles tempos: quando deram conta, as palavras do teatro, da imprensa, do cinema, enfim, da Arte e da Comunicação em geral, estavam presas. Era preciso lutar.