quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Professoras do Arquivo Miroel Silveira lançam suas publicações durante Seminário



As professoras Cristina Costa, Mayra Rodrigues Gomes e Roseli Figaro, coordenadoras do projeto temático do Arquivo Miroel Silveira lançaram suas respectivas publicações, com o apoio da Fapesp, durante o segundo dia do Seminário.

As três publicações foram produzidas a partir dos estudos realizados no Arquivo, na ECA-USP.

Cristina Costa organizou Censura, repressão e resistência no teatro brasileiro (Editora Annablume), que conta com uma série de entrevistas realizadas com personagens envolvidas no meio teatral e de censura: a autora Renata Pallottini, o censor Coelho Neto, o diretor Zé Celso, entre outros.

Mayra Rodrigues Gomes lançou, em parceria com suas bolsistas, pesquisadoras do Arquivo, Palavras proibidas. Pressupostos e subtendidos na censura a peças teatrais (Editora BlueCom), que analisa como se dava o processo de censura das palavras nas peças teatrais e como isso se relaciona com a noção de discurso e “palavras proibidas”.

Roseli Figaro lançou Na cena paulista, o teatro amador. Circuito Alternativo e popular de cultura (1927-1945) (Ícone), sobre as atividades dos grupos de teatro popular e amador, formados por imigrantes e trabalhadores, também censurados.

Censura na Ditadura e teatro político são debatidos no segundo dia de evento

Após encenação de peça, cerimônia de abertura e palestra fazem o segundo dia do evento

Uma cerimônia de abertura e uma palestra sobre a censura teatral na segunda-feira, dia 13, deram continuidade ao Seminário “1968: Liberdade e Repressão”, organizado pelo Arquivo Miroel Silveira.

Estavam presentes na mesa de abertura Maria Luiza Marcilio, presidente da comissão de direitos humanos daUSP; Luiz Augusto Milanesi, diretor da ECA-USP; Luiz Fernando Ramos, dramaturgo, crítico de teatro e professor da ECA-USP; Gabriel Borba, do Museu de Arte Contemporânea da USP; Rosa Iavelberg, diretora da Centro Universitário da Maria Antônia da USP; e Cristina Costa, professora da USP e coordenadora do projeto temático do Arquivo Miroel Silveira.

Momento para refletir 1968 e seus significados


Após 40 anos, o ano de 1968 ainda permanece na memória da sociedade pelo fato de profundas transformações sociais, políticas e históricas terem se corporificado em momentos-símbolo naquele ano. O principal debate girava em torno do futuro da humanidade e qual proposta era a mais indicada para o bem-estar da humanidade: capitalismo ou socialismo.

Desse ponto decorrem grandes vertentes, mas uma delas é o debate político e da sociedade trazido para a Arte. Mas à ela se contrapõe a repressão, a força coercitiva a favor da manutenção do poder e valores vigentes e que visa reprimir a força de uma manifestação cultural na formação social.

Liberdade e Repressão. É a partir dessas duas palavras, ao mesmo tempo opostas e irmãs, antônimas mas complementares, que o Seminário do Arquivo Miroel Silveira decidiu promover um evento que debatesse esse tema: a liberdade e a repressão no teatro brasileiro e como se relaciona com as transformações histórico-sociais e culturais da sociedade brasileira.

Cristina Costa introduziu a todos os presentes a história do Arquivo Miroel Silveira e como o núcleo de pesquisa se configura atualmente. Em 1968, a censura deixa de ser em âmbito estadual e passa a ser federal. Em 1988, com o fim da Ditadura, quando estavam prestes os processos arquivados a ir para o lixo, o professor da ECA, Miroel Silveira, decide se responsabilizar por eles, armazenando-os na ECA.

Durante anos, os mais de seis mil processos de censura teatral permaneceram esquecidos, até que Cristina Costa tomou conhecimento deles e logo surgiu a idéia de toda uma pesquisa ao redor das peças, explorando todas as vertentes sociais, históricas e comunicacionais que ali estavam latentes. Chamou, para a concretização de tal plano, as professoras Mayra Rodrigues Gomes e Roseli Figaro. E a partir desse projeto inicial surgiu o projeto temático, que há anos vem trabalhando no sentido de explorar todas as informações contidas nos processos das peças.

Para Cristina, ao se analisar as peças censuradas presentes do Arquivo, dá-se conta da presença na época de um conservadorismo tacanho, de um autoritarismo e de um desrespeito à autoria. “Era um jogo de poder, com o intuito de intimidar, fazer o autor saber que tudo o que pensasse e escrevesse seria analisado”.


Ela conta que os censores se davam o poder de dizer o que a sociedade podia saber e o que não podia. A professora ainda afirmou que é assustador ver como a sociedade aceita a censura em suas diversas manifestações, se sentindo mais confortável e protegida.

Introduzindo a reflexão

O debate acerca da relação entre liberdade e repressão foi proposto já na mesa de apresentação. Maria Luiza Marcilio lembrou que a liberdade é um dos fundamentos dos Direitos Humanos e fez um apelo: “nós brasileiros não podemos aceitar qualquer tipo de censura ou repressão”.

Já para Luiz Fernando Ramos, o teatro é a arte mais censurada ao longo da história por ter um caráter presencial, com um contato direito entre o público e o artista. Para o estudioso do teatro, as peças preservadas no Arquivo Miroel Silveira contém todo um conhecimento latente, investigado atualmente e a ser investigado pelas próximas gerações.

Censura e teatro político

Iná Camargo Costa, professora da FFLCH-USP e especialista em dramaturgia nacional e teatro épico, foi quem deu a primeira palestra do Seminário. Ela comentou brevemente sobre a censura no teatro de um modo geral e logo refletiu sobre o real significado de um teatro político.

A professora fez questão de lembrar que durante muito tempo o Brasil sofreu com a censura nas Artes, não só na época da Ditadura, e somente há 20 anos que não há mais a censura no País. Mas frisou: “Já é uma conquista o fato de hoje podermos falar sobre a censura”, como era justamente o caso do Seminário.

A professora afirmou que a burrice dos censores era tremenda, não havia preparo técnico nem embasamento cultural da parte deles. Num momento de descontração, contou a todos a história do delegado que exigiu que o autor da peça que acabara de ser censurada se apresentasse imediatamente para se explicar. O único problema era que o autor, no caso, era Sófocles, famoso autor da Grécia Antiga.

Para ela, o marco do teatro político no Brasil foi “Eles Não Usam Black-Tie”, de Gianfrancesco Guarnieri. “Foi o limite da forma do drama na época”, comenta.

Já a censura sempre esteve de olho na atividade teatral. Tanto é, Iná conta, que em 64, a primeira ação da Ditadura foi tacar fogo no prédio da UNE (União Nacional dos Estudantes), que naquele exato dia inauguraria seu teatro. Para Iná, isso foi a maior prova de que a Ditadura temia o poder transformador e revolucionário do teatro político.

Ela ainda ressaltou que é preciso perceber que há o teatro político de verdade e o pseudo. O de verdade, conta, prima pelo respeito ao interlocutor, pela integridade física e mental dele e que se propõe a conversar de igual para igual. Um teatro que oprime o espectador não faz nada de diferente da Ditadura que torturava e amedrontava.

Fotos do espetáculo "A Lenda de Sepé Tiaraju"